Desde o início da trajetória do Movimento Negro de Heliópolis e região, Maria Antônia, uma das cofundadoras do movimento na região, tem desempenhado um papel fundamental na construção e no fortalecimento das pautas identitárias locais. Ao longo dos quase dez anos de atuação, o movimento busca, primeiramente, combater o racismo dentro do território, enquanto também leva a discussão para a comunidade, reconhecendo a importância de conscientizar e educar sobre a temática antirracista.
A atuação no território de Heliópolis começou com um olhar atento à necessidade de formar lideranças que pudessem enfrentar as desigualdades raciais de forma efetiva. “A gente começou a pensar na nossa militância, em como e por que se milita, sempre com a preocupação de como levar isso para a comunidade”, explica Maria Antônia. Um dos focos iniciais foi a educação antirracista, que, naquela época, ainda era um tema pouco discutido, especialmente nas escolas. A formação de educadores e a inserção de pautas relacionadas à cultura africana e afro-brasileira tornaram-se um princípio fundamental para o movimento.
Maria Antônia destaca que o movimento sempre procurou ressaltar a importância da autodeclaração e do reconhecimento da origem de cada indivíduo. Esse processo é crucial, pois muitas dessas histórias, que formam a base da identidade afro-brasileira, não são ensinadas nas escolas, tampouco estão presentes nos livros didáticos. “É necessário olhar para nossa história, especialmente a do Brasil, que foi o último país da América a abolir a escravidão. Trazemos histórias que não estão nos currículos escolares”, observa Maria Antônia.
O movimento também trabalha ativamente com a Lei 10.639/2003, que torna obrigatória a inclusão da educação e cultura africana e afro-brasileira no currículo escolar. Essa lei tem sido um ponto de partida importante para a discussão dentro de Heliópolis, estimulando a reflexão sobre a história e o protagonismo negro no Brasil. A luta continua, e a educação antirracista segue como uma das principais bandeiras do movimento em busca de um futuro mais igualitário e consciente.
Parceria fortalece movimento social em prol do combate ao racismo
Uma trajetória marcada pela união e pela luta contra o racismo define o movimento de base da União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (UNAS). Segundo representantes do movimento, as parcerias construídas ao longo dos anos têm sido essenciais para fortalecer suas ações no território.
“Sim, eu me sinto parceira desse movimento”, declara Maria Antônia, destacando a importância da colaboração mútua. Ela reforça que a UNAS, mais do que uma entidade, é um movimento social com raízes profundas na comunidade. “Quando olhamos para trás, percebemos que nossa relação com o movimento negro sempre esteve presente, como parceiros também da UNAS.”
Entre as parcerias que contribuíram significativamente para a formação e fortalecimento do Movimento Negro de Heliópolis e região, está o trabalho com o professor Cleber, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Há cerca de dez anos, ele desempenhou um papel fundamental na capacitação dos coordenadores, oferecendo uma formação mais didática e estruturada. “Naquela época, tínhamos a pauta do combate ao racismo, mas carecíamos de uma formação que nos tornasse mais atuantes no território”, relata a coordenadora do movimento.
O fortalecimento dessas alianças não apenas solidifica o combate ao racismo, mas também amplia a atuação do movimento em prol de uma sociedade mais justa. “Hoje, as parcerias nos agregam e nos fortalecem”, conclui, reforçando a importância de iniciativas conjuntas para enfrentar os desafios no território.
A escrita deste texto foi possível por conta do “Projeto 365 Dias Sendo Preto”, contemplado pela 4ª Edição do Edital Apoio à Cultura Negra da cidade de São Paulo
Movimento Negro de Heliópolis e Região
Somos o Movimento Negro de Heliópolis e região, um coletivo antirracista e democrático num dos maiores territórios periféricos do Brasil.